
Deepfakes e IA: As Novas Armas dos Golpistas para Falsificações Digitais
Advogados especialistas explicam como identificar golpes e falsificações por Deepfakes e IA e as estratégias jurídicas para recuperação de valores subtraídos.

A tecnologia que deveria facilitar nossas vidas tornou-se uma poderosa aliada de criminosos digitais. Os deepfakes, conteúdos manipulados por inteligência artificial que imitam com perfeição vozes e rostos humanos, representam uma nova fronteira nas fraudes financeiras. A realidade é alarmante: segundo dados da Febraban, as fraudes envolvendo tecnologias de falsificação digital cresceram 165% no último ano, gerando prejuízos estimados em R$ 2,5 bilhões aos brasileiros.
As vítimas não são apenas pessoas com pouca experiência digital. Executivos de grandes empresas, investidores experientes e até instituições financeiras têm caído em golpes sofisticados envolvendo IA generativa e deepfakes. O cenário exige conhecimento técnico e proteção jurídica especializada para identificar, prevenir e combater estas novas modalidades de fraude.
O avanço das ferramentas de IA na criação de deepfakes
A democratização das tecnologias de IA tornou as ferramentas de manipulação digital acessíveis a qualquer pessoa com conexão à internet. O que antes demandava conhecimentos avançados de programação e equipamentos caros, hoje pode ser realizado com aplicativos gratuitos disponíveis para smartphones.
Os deepfakes evoluíram drasticamente em qualidade e verossimilhança. As primeiras versões apresentavam falhas perceptíveis: movimentos labiais dessincronizados, textura artificial da pele e vozes robotizadas. Os algoritmos atuais, porém, analisam milhares de parâmetros faciais e vocais, criando réplicas virtualmente indistinguíveis de pessoas reais.
Esta evolução tecnológica possibilitou fraudes sofisticadas em diversos setores:
Manipulação de videoconferências para falsificar reuniões com executivos
Clonagem de voz para autorização de transferências bancárias
Falsificação biométrica para burlar sistemas de segurança
Criação de evidências falsas em disputas judiciais
O caso emblemático da empresa britânica que perdeu £200 mil após um golpista utilizar IA para imitar a voz do CEO em uma chamada com o diretor financeiro ilustra a sofisticação destas fraudes. No Brasil, casos semelhantes de fraudes em transferências internacionais têm se multiplicado, exigindo novas abordagens jurídicas para proteção e recuperação.
Principais modalidades de golpes com deepfakes no Brasil
Os criminosos digitais brasileiros rapidamente incorporaram as ferramentas de IA em seu arsenal. As modalidades mais comuns identificadas atualmente incluem:
1. Falsificação de autoridades financeiras
O golpista cria um deepfake imitando gerentes bancários ou representantes da CVM. Em videochamadas, solicita transferências emergenciais ou fornecimento de dados sensíveis, alegando problemas de segurança ou oportunidades exclusivas de investimento. Esta modalidade está diretamente relacionada aos golpes do falso funcionário bancário.
2. Manipulação de provas e extorsão digital
Criminosos utilizam deepfakes para criar vídeos comprometedores de executivos ou figuras públicas, exigindo pagamentos para não divulgá-los. A sofisticação técnica dificulta a comprovação da falsidade, mesmo após análise forense.
3. Fraudes em investimentos com "especialistas" virtuais
Plataformas fraudulentas utilizam deepfakes de economistas renomados ou grandes investidores endossando produtos financeiros fictícios. Recomendamos a leitura sobre golpes em investimentos digitais para entender as estratégias jurídicas de proteção.
4. Falsas videoconferências corporativas
Funcionários recebem convites para reuniões virtuais com a diretoria (falsificada por IA), onde são induzidos a realizar transferências ou fornecer acessos a sistemas críticos da empresa.
5. Engenharia social potencializada
Combinando dados vazados com deepfakes, criminosos criam abordagens extremamente convincentes e personalizadas. Os métodos de engenharia social se tornam mais eficazes quando associados à tecnologia de IA.
Os prejuízos financeiros destas fraudes frequentemente atingem cifras elevadas, pois os golpistas priorizam alvos corporativos ou indivíduos com patrimônio significativo. O STJ já registra casos onde valores superiores a R$ 1 milhão foram subtraídos em operações únicas envolvendo deepfakes.
Como identificar conteúdo manipulado por inteligência artificial
A detecção de deepfakes tornou-se um desafio significativo, mas ainda existem sinais que podem ajudar a identificar conteúdos manipulados:
Inconsistências nos piscar de olhos: Algoritmos atuais ainda têm dificuldade em reproduzir perfeitamente o ritmo natural do piscar humano.
Reflexos e sombras anormais: Observe reflexos em óculos, dentes ou superfícies brilhantes que podem apresentar padrões inconsistentes.
Transições faciais estranhas: Mudanças abruptas de expressão ou movimentos não naturais da cabeça podem indicar manipulação.
Degradação ao redor do pescoço ou cabelo: Estas áreas frequentemente apresentam artefatos digitais visíveis em análise mais cuidadosa.
Verificação por canais alternativos: Sempre confirme solicitações financeiras ou sensíveis por múltiplos canais oficiais previamente estabelecidos.
Para empresas, recomenda-se a implementação de protocolos de autenticação multifator que vão além de verificações biométricas simples. Códigos secretos predefinidos ou perguntas pessoais específicas podem complementar a verificação visual/auditiva.
Instituições financeiras já começam a investir em sistemas de detecção de deepfakes, mas a tecnologia defensiva ainda corre para alcançar o rápido avanço das ferramentas de falsificação.
Aspectos jurídicos e responsabilidade legal nas fraudes por deepfake
O ordenamento jurídico brasileiro ainda não possui legislação específica para deepfakes, mas diversas normas existentes podem ser aplicadas a estes casos:
O Código Penal enquadra estas práticas principalmente nos crimes de:
Estelionato (art. 171) - pena de 1 a 5 anos
Falsidade ideológica (art. 299) - pena de 1 a 5 anos
Invasão de dispositivo informático (art. 154-A) - pena de 3 meses a 1 ano
A Lei Carolina Dieckmann (Lei 12.737/2012) estabelece penalidades para invasão de dispositivos eletrônicos para obtenção de dados, frequentemente utilizados na criação de deepfakes convincentes.
O Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) fornece base legal para responsabilização de plataformas que hospedam conteúdos fraudulentos, especialmente quando notificadas e inertes.
Quanto à responsabilidade das instituições financeiras, a jurisprudência do STJ tem evoluído para reconhecer a falha na prestação de serviços em casos onde as verificações de segurança são insuficientes para detectar fraudes sofisticadas, conforme decisão no REsp 1.846.557/SP.
Segundo estudo publicado pela OAB/SP em 2023, apenas 18% dos casos de fraudes por deepfakes são adequadamente enquadrados pelos delegados em sua tipificação inicial, o que demonstra a necessidade de assessoria jurídica especializada para correta condução destes processos.
Estratégias de proteção e medidas legais para vítimas
A prevenção continua sendo a melhor estratégia contra deepfakes. Recomendamos:
Implementação de palavras-chave secretas para comunicações sensíveis
Estabelecimento de protocolos de verificação por múltiplos canais para autorizações financeiras
Treinamento de equipes para reconhecimento de sinais de manipulação digital
Monitoramento constante de contas e transações para identificação precoce de atividades suspeitas
Consultoria jurídica preventiva para estabelecimento de fluxos seguros de aprovação financeira
Empresas devem considerar a contratação de seguros específicos contra fraudes cibernéticas, cada vez mais comuns no mercado brasileiro. Estes seguros podem cobrir não apenas prejuízos diretos, mas também custos com investigação forense e processos de recuperação.
A criação de políticas claras de comunicação corporativa que definam previamente como serão feitas solicitações sensíveis reduz significativamente a eficácia de abordagens fraudulentas, mesmo com uso de deepfakes convincentes.
Como recuperar valores em casos de golpes por deepfakes
A recuperação de valores em fraudes envolvendo deepfakes depende da agilidade nas ações iniciais e da estratégia jurídica adotada. Os primeiros passos cruciais incluem:
Documentação imediata da fraude, preservando todas as evidências digitais disponíveis
Notificação às instituições financeiras envolvidas para tentativa de bloqueio das transações
Registro de Boletim de Ocorrência em delegacia especializada em crimes cibernéticos
Rastreamento de ativos digitais com auxílio de especialistas forenses
Medidas judiciais urgentes para bloqueio de valores antes da dissipação
As medidas cautelares são particularmente importantes nestes casos. A jurisprudência recente tem aceitado o deferimento de liminares para bloqueio de contas com base na apresentação de indícios consistentes da fraude, sem necessidade de comprovação exaustiva inicial.
O prazo para contestação em casos de fraudes por deepfake merece atenção especial. Enquanto o prazo prescricional geral para reparação civil é de 3 anos (art. 206, §3º, V do Código Civil), a jurisprudência tem reconhecido que o início da contagem deve considerar o momento em que a vítima toma conhecimento efetivo da fraude, e não da data da operação fraudulenta.
A responsabilização de terceiros, como instituições financeiras e plataformas digitais, amplia as possibilidades de recuperação. Decisões recentes do STJ têm reconhecido a responsabilidade solidária de bancos em casos onde as verificações de segurança se mostram insuficientes diante de fraudes tecnologicamente avançadas.
Nossa experiência demonstra que a combinação entre medidas administrativas (junto a instituições financeiras), investigativas (com autoridades policiais) e judiciais (cautelares e principais) proporciona os melhores resultados na recuperação de valores em fraudes por deepfakes. Agende uma consulta para discutir seu caso específico.
Considerações finais
A evolução constante das tecnologias de IA apresenta desafios crescentes para segurança digital e financeira. As fraudes envolvendo deepfakes representam apenas o início de uma nova era de crimes cibernéticos sofisticados, que demandam tanto avanços legislativos quanto atualização constante dos profissionais do direito.
A recuperação de valores em casos de golpes por deepfakes é possível, mas depende fundamentalmente da agilidade das medidas iniciais e da expertise dos profissionais envolvidos. O conhecimento técnico sobre o funcionamento destas tecnologias, combinado com domínio das estratégias jurídicas adequadas, é determinante para o sucesso nas ações de recuperação.
Se você foi vítima de fraudes envolvendo deepfakes ou deseja implementar estratégias preventivas em sua empresa, entre em contato com nossa equipe especializada para uma análise personalizada de seu caso.